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Para mim, um bom espaço público é um lugar onde as pessoas se sentem bem e seguras, um lugar onde elas queiram ficar. Porém, não cabe a mim definir quais são as características de um lugar assim. Só as pessoas que vivem e trabalham próximas ao espaço podem definir isso.
O que é bom para uma cidade ou um bairro pode não ser bom para outro. Talvez essa seja a razão pela qual vemos tantos espaços públicos subutilizados ou abandonados nas nossas cidades: eles foram criados sem a opinião e a participação da comunidade. Nesse contexto, placemaking pode ser uma solução. Placemaking é um processo que transforma qualquer espaço público em um lugar que responde às necessidades e desejos da comunidade, convidando as pessoas a viver a cidade, conectar-se, e ser mais saudáveis e felizes.
Para entender necessidades e desejos de uma comunidade, precisamos engajar as pessoas no início do processo de construção de um espaço. Há muitas maneiras de engajar pessoas (Project for Public Spaces, – Projeto para Espaços Públicos- e People Make Parks, -Pessoas Fazem Parques-, têm ótimos instrumentos). Porém, engajar a comunidade pode não ser uma tarefa fácil, principalmente em culturas nas quais o voluntariado e a participação em projetos sociais e políticos não são tão comuns, como em algumas regiões brasileiras. No Brasil, as pessoas são alegres e querem se divertir, por isso criamos uma maneira alegre e divertida de discutir assuntos urbanos importantes e de engajar as pessoas na criação de espaços públicos. Conduzimos as nossas atividades através do Bela Rua – nossa organização sem fins lucrativos no Brasil, que estuda a vida dos espaços públicos para desenvolver projetos e soluções urbanas focados no comportamento, nos desejos e nas necessidades das pessoas.
Muitas calçadas em São Paulo estão cheias de buracos, fissuras, degraus e outros obstáculos. Em 2012, o Hospital das Clínicas da cidade revelou que 18 % das vítimas de queda atendidas no hospital caíram em calçadas da capital paulista. Infelizmente, esse assunto não foi de grande interesse da mídia ou dos cidadãos. Para chamar a atenção para o problema, criamos Curativos Urbanos, uma campanha que usou bandaids gigantes e coloridos para sinalizar buracos e outras “feridas” nas calçadas. Durante um mês, o projeto chamou a atenção das pessoas e de pelo menos cinco canais de televisão, quatro jornais, três revistas, duas estações de rádio e muitos blogs e websites. Além disso, cidadãos em dez outras cidades Brasileiras, em Roma e em Paris replicaram o projeto. Em São Paulo, o responsável pela manutenção da calçada é o proprietário do imóvel lindeiro a ela (e não a Prefeitura). Muitos cidadãos não sabem da sua responsabilidade, então o projeto também serviu para informar e alertar as pessoas. E muitas “feridas” foram curadas mesmo!
Para transformar espaços públicos em lugares vivos e inspiradores para as pessoas, testamos abordagens diferentes para entender as necessidades e desejos da comunidade. Porém, quando perguntávamos às pessoas sobre um espaço, elas não conseguiam imaginar algo diferente ali. Elas simplesmente não viam aquele espaço público como um lugar que poderia ser melhor para pessoas.
Por conta disso, o Bela Rua criou um método que mostra diferentes exemplos de uso de um espaço público, observa como as pessoas reagem a essas novas atividades e inspira as pessoas a contribuir com novas ideias para o local. Nós o chamamos de (RUA)3, ou Rua ao Cubo. (RUA)3 é um cubo gigante e móvel que temporariamente transforma qualquer espaço público num lugar com muita diversão, cultura e arte. De dentro do cubo, podemos tirar bancos, jogos, instrumentos musicais e o que mais for necessário para oferecer novos usos a um espaço. Depois de instalado, o cubo se torna a base para todo tipo de atividades, como shows, karaokê, aulas de yoga, exibições de arte, jogos para todas as idades, sessões de cinema, workshops criativos, entre outras. É também uma oportunidade para artistas e negócios locais promoverem o seu trabalho e serviços.
Durante a experiência com o cubo, o Bela Rua observa e analisa quantas pessoas usam o espaço, qual é o perfil dessas pessoas e quais atividades mais as atraem. Além disso, também conduzimos pesquisa e instalamos painéis interativos onde as pessoas escrevem as suas necessidades e desejos para o local. Após três semanas de estudos e pesquisas, é preparado um relatório sugerindo soluções permanentes para o espaço, baseado na análise da experiência. Em 2014, esse projeto foi implementado em São Paulo, com resultados mensuráveis. As atividades divertidas chamaram a atenção da comunidade para uma praça subutilizada e mostraram às pessoas exemplos de usos diferentes para o espaço. O cubo também nos ajudou a entender as necessidades e os desejos da comunidade, através de pesquisa e painéis interativos onde as pessoas escreviam as suas ideias para melhorar a praça. O resultado mais impressionante: em um sábado à noite, um show de jazz foi responsável por aumentar em quase 15.000 % o número de pessoas que frequentavam o local.
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Discover moreNúmero 1: descubra e entenda as necessidades e os desejos da comunidade. Como Fred Kent sempre fala, “As pessoas são os especialistas! ”.
Número 2: teste as ideias. Sinta-se livre para experimentar, e observe como as pessoas interagem entre si e com o espaço. Os nossos quadros negros permitem às pessoas deixarem comentários sobre o que elas gostam e o que está faltando.
Número 3: faça com que o processo seja divertido. Estamos trabalhando em mais projetos usando uma abordagem alegre e divertida para ter certeza da sua efetividade. Se muitas vezes usamos arte e humor por diversão, por que não os usar para melhorar a vida urbana também?