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Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento da cidade de Dublin foi como um passeio de montanha russa. Nos anos 1980, o tecido urbano do centro foi prejudicado por pensamentos ultrapassados, que promoveram esquemas viários e a destruição de prédios históricos. Naquela época, temia-se que Dublin virasse uma “cidade rosquinha”, ou “doughnut city”, como tantas cidades nos Estados Unidos e outros lugares. Eis que chegou o “Tigre Celta”. Gruas surgiram na linha do horizonte da cidade, e ela foi transformada num canteiro de obras. Ocorreu um frenesi de 15 anos de construção. Em 2008, o frenesi parou repentinamente, e houve tempo para pensar novamente. Alguns prédios bons, e muitos medíocres, foram construídos. A população do centro urbano tinha aumentado em 50%, até aproximadamente 130.000 habitantes. A expansão da região metropolitana fez com que o tempo de viagem dobrasse nas autoestradas para o norte, oeste e sul. Hoje, a região tem uma população de 1,8 milhões de habitantes. A expansão suburbana se estabeleceu, mas o centro urbano viveu um renascimento.
Com o baixar da poeira desse ciclo de explosão e colapso, está na hora de considerar o que pode ser feito para maximizar o potencial da cidade. Três questões podem ser levantadas sobre a cidade no seu estado atual. Como o trânsito pode ser domesticado? O que podemos fazer para melhorar a infraestrutura verde? O que podemos fazer para aproveitar melhor os pequenos sobrados? Se essas questões puderem ser resolvidas, as áreas urbanas poderão enfrentar melhor os desafios desconhecidos pelo restante do século 21.
Num certo sentido, a questão do trânsito tem uma solução simples: facilitar o andar de bicicleta ou a pé, e melhorar o transporte público. Isso já está acontecendo: desde 2004 até 2014, o número de ciclistas indo e vindo do centro urbano durante o horário de pico aumentou em mais de 150%. Só de 2013 para 2014, houve um aumento de quase 15%. O número de viagens a pé também aumentou em 35% durante os últimos cinco anos. Esses números encorajam, porém eles só se aplicam ao centro urbano. Quanto mais afastadas do centro, mais pessoas estão apegadas aos seus carros. A saída é garantir que o carro não domine o centro, apelar por mais zonas de 30 km/h, estreitamentos das ruas, uma redução gradual de espaços para estacionamento e melhorias do transporte público. Boa notícia: um tram irá ligar duas linhas existentes que passam pelo centro urbano. Devolver mais espaço viário vai ser difícil, porém alargar a calçada é a arma secreta do planejador urbano, e acontecerá.
Uma mudança cultural está ocorrendo também. Com o crescimento de uma sensibilidade urbana, a argumentação por melhorias da esfera urbana pode tornarse mais fácil. Iniciativas europeias para enfrentar o barulho urbano, poluição do ar e emissões de carbono permitem às lideranças cívicas argumentar por uma infraestrutura melhor para pedestres e ciclistas. Um estudo de 2014 mostrou que os pedestres gastam mais nos distritos comerciais centrais do que os automobilistas, e esse tipo de evidência estimula o caso desses investimentos. Recentemente, a prefeitura lançou planos para uma rota cicloviária do ‘Liffey Boulevard’, ligando o extenso Parque Phoenix no oeste da cidade com o litoral da Dublin Bay, no leste. Comerciantes podem ter medo que isso restrinja os usuários de carros, porém os benefícios parecem compensar qualquer perda de espaço viário de automóveis.
Melhorar o acesso às áreas verdes é uma questão crucial na melhoria da qualidade da vida urbana. Muitas vezes é uma questão decisiva para famílias, e surgiu como fator que leva as famílias jovens para os subúrbios. Grandes faixas do centro urbano não têm ou têm pouco espaço recreativo exterior. Os espaços verdes existentes requerem melhor administração e investimentos. Estão propostos mais serviços nos parques existentes, como cafés, por exemplo. Horários de funcionamento prolongados podem contribuir, assim como facilitar as travessias das ruas movimentadas, para que, antes de qualquer coisa, as pessoas cheguem nesses parques.
Também há muitos lugares centrais que são subutilizados e invadidos por vegetação. O Estado possui terra sem ter os recursos para construir, e outras terras estão vazias, nas mãos de incorporadores falidos. Talvez os parques possam ser uma solução para os próximos anos. No verão de 2013, o temporário ‘Parque Granby’ permitiu, com sucesso, que muitas pessoas pudessem usufruir da natureza e de eventos culturais, dentro dos limites da cidade.
Durante o boom, os empreendimentos foram concentrados nas áreas maiores, geralmente acima de 1.000 metros quadrados, já que podiam gerar mais lucro. Agora chegou a hora de pensar sobre os terrenos menores, que foram negligenciados ou ignorados, quando se focava apenas nas áreas maiores. Sítios menores, especialmente os menores de 200 metros quadrados, sobraram para atrair lixo e atividades nada cívicas. Esses lotes menores poderiam ser usados para empreendimentos de uso misto, bem projetados. Em alguns casos, os incorporadores faliram, em outros, os terrenos são da própria prefeitura.
Se o crescimento econômico continuar, a prefeitura poderia realizar empreendimentos de uso misto nesses lugares, ou, caso contrário, considerar aliená-los com a fixação de diretrizes para um projeto. Isso poderia fazer com que associações de habitação ou famílias pudessem construir moradias a preços acessíveis, no coração da cidade. Ninguém sabe de verdade que futuro está esperando Dublin. Porém, experimentar é bom, e parece que “pequeno é lindo” pode ser um bom lema a se observar e seguir nos próximos anos.
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