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A Cidade Calorosa existe na intersecção de aspetos físicos e sociais observáveis da vida urbana. Nossas percepções como pessoas que usam o espaço público são uma das pedras de base da cidade calorosa. Para algumas pessoas, a multidão no centro da cidade é apenas um incômodo, porque obstrui o seu caminho de A para B. Para essas pessoas, a cidade deveria ser funcional, um meio de transporte dos seus escritórios até as suas casas. Para muitos outros, as pessoas no espaço público formam um reservatório de experiências diversas, cognitivas, tácteis, emocionais, estéticas, sensoriais, eróticas e relacionais. No meu livro A Cidade Calorosa, eu foco principalmente nas interações entre estranhos (Goffman 1963, Lofland 1973), e o que eles experimentam, sentem e pensam durante um conjunto diverso de encontros, incluindo interações fugazes – breves contatos visuais e a troca de algumas palavras ou frases – bem como interações mais duradouras, como discussões intensas sobre esportes, política e flertes. Na sociologia urbana, a vida urbana pública geralmente tende a ser descrita como fria, anônima e impessoal (Wirth 1938). Com a minha pesquisa, eu mostro uma perspectiva radicalmente diferente sobre a vida pública urbana. Escuto as vozes daqueles que se sentem em casa entre estranhos nas ruas e praças da cidade e analiso como isso se relaciona com a diversidade de interações na esfera pública.
Sou especialmente inspirado pelo trabalho de Whyte sobre o espaço Público em Manhattan (1988) e o segundo livro de Lofland sobre a esfera pública (1988), no qual ela constata que estruturas megalômanas destroem a vida pública vibrante e a tornam uma versão fria, pasteurizada. Em ambos os estudos, os plinths são considerados uma qualidade essencial de um espaço público vibrante. Ruas com plinths acessíveis, transparentes, e principalmente relacionados à fachada aberta de lojas pequenas, atraem mais pessoas que ruas sem plinths com essas qualidades. Dando um típico exemplo holandês do meu livro: pedalando pela cidade, meus respondentes geralmente escolhiam as ruas mais movimentadas, porque isso era mais divertido. Eles queriam olhar as pessoas andando e pedalando, e/ou foram simplesmente atraídos pelo ambiente cheio de vida. Queriam escapar do tédio das ruas com megaestruturas. Mesmo na bicicleta, eles mergulhariam nas diversões da vida urbana.
A paisagem urbana importa, especialmente através de lojas pequenas com um caráter aberto. Pode-se ver pessoas fazendo compras, sentadas, bebendo, comendo, experimentando roupas, exibindo-se, casais aborrecidos e frustrados, ou felizes da vida um com o outro. Devido aos plinths, temos acesso a pessoas e a apresentações de si próprias. Não é apenas uma comédia humana que pode se vivenciar nestes lugares. Ver os outros e nós mesmos torna-se parte do nosso contínuo projeto-de-identidade (Giddens 1996). Nos comparamos com outros, rejeitamos os outros com desprezo, admiramos a sua impressão, e nos sentimos até inspirados a reproduzir partes das suas aparências, dos seus comportamentos e dos jeitos com que eles se relacionam um com o outro. Uma moradora urbana me contou que ela viu um casal andando de mãos dadas de um modo tão íntimo que ela pensou no seu próprio relacionamento, se perguntando se ela poderia andar assim – tão junto – com o seu parceiro. Nós não vivenciamos a vida urbana de fora, fazemos parte dela. Pessoas nos olham, nos vêm, falam conosco, nos tocam e nos cheiram. É recíproco. Somos objetos e sujeitos ao mesmo tempo. Conectamos, interagimos, às vezes estrategicamente, às vezes sem qualquer esforço consciente.
Plinths não criam somente uma experiência social distintiva, mas também uma experiência física única. Por exemplo, em razão de plinths abertos, o cheiro dos produtos sendo vendidos, como pão fresco, vegetais, flores, café e comida de todo canto do mundo nos impregna. Também temos a sensação de tocar em tomates, maças, sapatos, roupas, livros, etc. Um outro aspecto típico da experiência física dos plinths é a locomoção. Numa rua com pequenas lojas e fachadas abertas, pode-se vaguear saindo de uma loja para a rua e vice versa. Isso acontece com a sensação de escolha, liberdade e individualidade. Alguém pode ceder à atração que sente quando passar por uma loja. E também existe a autonomia de um escape rápido: a saída sempre está a poucos passos. Uma loja com fachada aberta faz com que alguém se sinta conectado à cidade, à rua, onde pode vivenciar a liberdade da diversidade, respirar ar fresco e sentir a luz do sol.
Vida publica também envolve observar objetos. Trata-se do prazer de olhar para produtos que desejamos – bens bonitos, deliciosos, engraçados, extraordinários, exóticos. Olhar produtos pela janela de um plinth pode também se tornar uma experiência coletiva: queremos compartilhar as nossas descobertas com os nossos amigos. Falamos sobre a música de que gostamos, os filmes que queremos ver, pessoas nos aconselham, às vezes até estranhos. Nas entrevistas para A Cidade Calorosa, e nos estudos relacionados a espaços semi-públicos (como os mercadinhos na esquina, cabelereiros, cafés e lavandarias automáticas), um outro aspecto importante desses lugares foi evidenciado. Estes lugares são os solos férteis para pequenas comunidades transitórias, que nos conectam à cidade e fazem nos sentirmos em casa.
A qualidade fundamental que é adicionada à vida urbana pública pelas lojas pequenas com fachadas abertas é a sua permeabilidade, a integração parcial do público (a rua) e o privado (a loja). Pequenas lojas com fachadas abertas não criam somente o contexto para a cidade calorosa, mas permitem movimento entre o público e o privado. Vida pública possibilita que atravessemos essas fronteiras e que possamos ir de uma experiência para a outra. Essa oscilação, esse movimento, cria uma experiência oposta à da situação urbana fria, fixa e estática, onde nos sentimos presos em um não envolvimento e estranhamento. Este movimento cria interação, sentido, histórias e narrativas através das quais nos nós apegamos à cidade, às suas possibilidades e transformações.
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