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“Caóticas” é a palavra que melhor descreve as cidades indianas, e o caos é gerado pelas tantas atividades que definem a paisagem da rua. Isso se mostra particularmente evidente numa megacidade como Mumbai, a capital comercial da Índia, com o desenvolvimento do crescimento da infraestrutura para atender a população crescente. A rua indiana clássica é intrinsecamente um lugar onde as pessoas se encontram, congregam, fazem negócios e comemoram. A rua hoje é multifacetada – a zona de pedestres (que está diminuindo), as vias para veículos, as pontes, o metrô e o monotrilho elevado. Uma paisagem de rua animada com atividades múltiplas, que mudam ao longo do tempo e da estação, fornece uma experiência humana maravilhosa, essencialmente com os “olhos voltados à cidade”, garantindo segurança e proteção para todos os usuários.
Dado que a Índia é uma república secular, a maior democracia do mundo, ambas, diversidade religiosa e tolerância religiosa, são estabelecidas no país por hábito e por lei. Hindus, muçulmanos, cristãos, zoroastristas, jainas, budistas, sikhs e pessoas de muitas outras crenças vivem em harmonia neste país. Cada religião tem o seu festival distinto em que a comunidade sai para as ruas para comemorar. Alguns eventos transcendem os limites de religião e crença, como casamentos, aniversários, dia da pátria, shows públicos e espetáculos.
Para todos esses eventos, a rua na Índia vira um showcase – por exemplo, a procissão famosa do festival Ganesha, com ídolos de todas as formas e tamanhos, o baraat ou procissão de casamento da família do noivo, com música e esplendor quando chegam na casa da noiva, ou mesmo os recentes protestos com velas acesas pelos direitos da mulher. A rua é o elemento universal que conecta pessoas de bairros diferentes (geralmente cada bairro é caracterizado por pessoas da mesma crença étnica ou religiosa) e é verdadeiramente pública por natureza.
Ruas são utilizadas para todos os tipos de negócios. Mercados informais florescem nas ruas públicas. Uma árvore velha, um muro ou um ponto de ônibus com abrigo podem ser usados para pendurar o quadro temporário dessas barracas ao longo da rua. Esses mercados oferecem opções de compra baratas à grande população da classe média-baixa. Ao final do dia, são desmantelados, empacotados e levados embora. Lojas locais no nível térreo de um prédio residencial ou comercial, onde se vendem bens domésticos, roupas, comida e outras bugigangas formam um outro nível de negócios.
Hoje em dia, carros, estacionamentos e desenvolvimentos de apenas um tipo de uso estão gradualmente tomando conta da esfera pública, um fenômeno comum em países em desenvolvimento. Até os anos 1990, quando o mercado indiano liberalizou e permitiu a venda no país de produtos de todo lugar do mundo, o carro era um bem “de luxo”. Hoje, o carro é uma necessidade de toda família para chegar ao trabalho ou fazer as coisas cotidianas. O aumento de poluição do ar e de barulho, o sistema de transporte público sobrecarregado e o clima tropical quente dificultam os deslocamentos. Mumbai verificou um aumento de 55% da sua população com carro nos anos recentes e, somente em 2013 e 2014, 50.000 carros e 94.000 ciclomotores foram adicionados às ruas.
Uma vez que o número de veículos aumentou enquanto a largura da rua permaneceu a mesma, aborrecimentos no trânsito e congestionamentos são muito comuns. Há várias políticas estaduais e centrais facilitando a construção de novas vias mais largas, estradas, pontes, visando reduzir os congestionamentos e criar uma imagem de um país que está se desenvolvendo rapidamente. O governo está tomando algumas medidas para as laterais das ruas orientando-as para os pedestres através do estímulo a sistemas de transporte público para reduzir a dependência do carro e focar na saúde humana, criando espaço para o pedestre e o ciclista. Porém, nesse fluxo de desenvolvimento, o contexto cultural e social foi completamente ignorado.
A demanda por terra está resultando na construção de arranha-céus de apartamentos, e o espaço comunitário que antes era usado para festividades religiosas e da família ou do bairro, na forma de pátios internos e maidans do bairro (espaço aberto multiuso), foi extinto. Shoppings são os novos espaços de congregação, alinhados por lojas e atividades, num ambiente com ar-condicionado e com os seus átrios como versão moderna dos maidains. Além disso, o aumento dos condomínios criou “ilhas” dentro da cidade; muros altos isolando as ruas do que acontece internamente. Deslocar-se por veículo pessoal para fazer as tarefas cotidianas é a melhor opção, sendo que a maioria das comunidades está desconectada do transporte público. Muito poucos promovem um modelo viver-trabalhar-lazer, de uso misto, e representam principalmente enclaves residenciais. Apesar de essas comunidades privadas oferecerem um ambiente que favoreça caminhar e jogar dentro dos seus limites, essas mesmas facilidades estão sendo esquecidas na esfera pública. Os órgãos governamentais devem considerar essas questões no nível da cidade, uma vez que elas são parte integrante da criação de uma experiência urbana holística.
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Discover moreA iniciativa “Ruas Iguais” começou em novembro de 2014 em Mumbai, ao longo de uma rua comercial em Bandra. Barricadas criam uma rua enorme somente para pedestres, de 6:30 até 11 horas nos domingos, enfatizando a ideia de “ruas compartilhadas”. Foi impressionante ver o número imenso de pessoas fazendo os seus passeios matinais, junto com mães com seus bebês, crianças andando de skate e de bicicleta, um grupo de músicos tocando ao fundo. Durante essas poucas horas, pessoas andavam despreocupadamente ao longo da rua, e o ar era um pouco menos poluído. Iniciativas como “Ruas Iguais” são somente um passo na direção de decisões maiores que devem ser tomadas nos níveis estaduais e nacionais, para instaurar políticas que conservarão a ideia e as tradições da rua indiana. Ruas na Índia, intrinsicamente, têm vivacidade e multiplicidade, qualidades tão desejadas para placemaking. Pode ser um produto da diversidade cultural, da alta densidade populacional ou dos valores sociais, mas é decisivo para manter aquela essência e para prevenir a destruição do único espaço público que resta.