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UM GRÃO MAIS FINO NAS RUAS DE SYDNEY

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Sydney, como todas as cidades, está em transição. Nas últimas duas décadas, a transição mais significativa de Sydney foi a de um Central Business District (Distrito Central de Negócios), ou CBD, centrado em trabalho, para uma cidade com verdadeiro uso misto, onde as pessoas moram, trabalham, fazem compras, passam seu tempo livre e simplesmente estão. Sydney se beneficia da sua localização única em um porto espetacular. A sua orla e a arquitetura icônica da Sydney Opera House e Sydney Harbour Bridge dominaram a identidade do lugar.

Desde que sediou os Jogos Olímpicos de 2000, o planejamento da cidade mudou seu foco para além da orla, se estendendo para as ruas, becos ou vielas/ruas dos fundos, espaços cívicos e abertos que compõem a esfera pública. A autoridade governamental local responsável pelo planejamento da cidade, a Cidade de Sydney, implementou uma série de iniciativas que avançam em direção a uma escala mais humana da cidade. Várias iniciativas demonstram a interseção entre desenho e placemaking em Sydney, e essas iniciativas representam um novo instrumento para auxiliar a descobrir a sua identidade e personalidade.

A PRIMEIRA EVOLUÇÃO: PEDESTRIANIZAÇÃO

Historicamente, a primeira evolução de Sydney em direção a uma cidade orientada para as pessoas incluiu o redesenho e a pedestrianização de duas grandes ruas: Martin Place, uma alameda para pedestres de 20 metros de largura, olhada de cima por grandes instituições financeiras, e Pitt Street Mall, a principal rua comercial de Sydney, que cobra o quinto maior valor de aluguel comercial do mundo. A Martin Place era repleta de pedestres, com os trabalhadores andando para o trabalho desde a estação de trem ou da parada de ônibus próxima dos seus escritórios, ou para almoçar, e de volta ao final do dia. Porém, era vazia e deserta durante as noites da semana e o fim de semana. Não existia programação alguma; não havia nenhum incentivo para ficar nestas ruas além dos horários regulares de trabalho.

A SEGUNDA EVOLUÇÃO: UM GRÃO MAIS FINO

Em 1996, 88.000 residentes viviam no CBD de Sydney. Em 2011, esse número dobrou e essa tendência continua. Para complementar esta profusão de residentes, a Cidade de Sydney introduziu várias políticas baseadas no local específico, que propõem uma camada adicional de complexidade à esfera pública e à experiência de Sydney ao nível dos olhos. Na rua Martin Place, uma sobreposição de eventos com shows e festivais nas noites e fins de semana foi realizada, criando uma vibração adicional. Hoje, no Pitt Street Mall, uma obra de arte iluminada pendurada atrai e conduz pedestres pela alameda à noite. Para além destas intervenções de grande escala, uma série de outras de escala menor define um novo quadro para placemaking e para a identidade de Sydney. A Cidade de Sydney propôs revitalizar a rede escondida de vielas existentes e subutilizadas do CBD. As políticas de arte pública e uma “Fine Grain Matching Grant”, ou “Co-fundo para o Grão Fino” especificamente para as vielas, as transformaram em destinos para fazer compras e sair para jantar. Uma política complementar de arte pública utilizou arte para transformar vias públicas, que já foram escuras e pouco convidativas, em espaços públicos acolhedores. Três instalações temporárias foram premiadas e se mostraram tão populares que se tornaram permanentes.

O Fine Grain Matching Grant concede financiamento de até $30.000 para apoiar o pequeno comércio que tenha planos de se transferir para as vielas e outras áreas subutilizadas. A Cidade de Sydey define Comércio de Grão Fino como comércio de pequena escala, diverso e inovador, varejo especializado, de hospitalidade ou entretenimento e que promova ativação de espaços subutilizados, como vielas urbanas e espaços de subsolo. A revitalização das vielas aconteceu em etapas. Melhorias incrementais foram realizadas, testadas, revisadas, analisadas. Depois, mais recursos foram direcionados para mais projetos de revitalização das vielas, com base no sucesso dos projetos de revitalização de vielas anteriores. A Cidade de Sydney identificou um número vasto de vielas dentro do CBD e apenas algumas poucas foram revitalizadas até hoje.

Essas novas políticas de grão fino reorientaram a esfera pública do espaço aberto, muito visível do porto para as vielas discretas e arenosas. O programa de rejuvenescimento reuniu departamentos governamentais, empreendedores jovens e grandes organizações e forneceu cerca de $ 10 milhões para melhorias de infraestrutura e para apoiar negócios locais.

O efeito dessas iniciativas é claramente evidente na esfera pública – a experiência visual da cidade ao nível dos olhos é mais engajadora e estimulante, a experiência física da cidade é mais diversa e com uma escala adequada para pedestres. Passeando pela cidade, pode-se desviar da rua principal, tropeçar numa viela intrigante, descobrir uma excelente instalação de arte ou um pequeno bar florescente aconchegado num porão. As vielas criam um elemento de surpresa além das ruas principais do CBD.

ATIVAÇÃO ATRAVÉS DE EVENTOS E PROGRAMAÇÃO

Enquanto as políticas de desenho urbano e planejamento da Cidade de Sydney possibilitaram essa transformação, o seu sucesso depende da apropriação humana – as pessoas têm que usar o lugar. Habitantes, trabalhadores e visitantes abraçaram a nova experiência oferecida e se apropriaram das vielas de Sydney. Não consomem só o varejo, a hospitalidade e o entretenimento oferecidos, mas também o lugar. Os bares com mesas e bancos superlotados se espalham pelas vielas; passantes param para cumprimentar um amigo; turistas olham as pessoas e fotografam a arte pública. As vielas de Sydney tornaram-se muito mais que simplesmente vielas ou atalhos entre as ruas principais. A Cidade de Sydney reconhece que as pessoas ativam os espaços urbanos e reforçam a identidade de um lugar. Para responder à demanda de placemaking através de ativação urbana e consumo de espaço, a Cidade de Sydney implementou uma sobreposição extraordinária de eventos e uma programação com eventos impressionantes todo mês. A programação se constrói sobre o desenho urbano e o enquadramento de planejamento do CBD, permitindo que habitantes, trabalhadores e visitantes participem e reforcem uma identidade verdadeira e autêntica para o lugar. Numa escala macro, eventos grandes acontecem em espaços públicos significativos, como os fogos de artifício da Véspera do Ano Novo, atraindo mais de um milhão de espectadores, com as pessoas assistindo e fazendo piquenique na orla do porto. E numa escala micro, as vielas hospedam instalações artísticas públicas temporárias para o Sydney Festival e o Art & About; são transformadas através de iluminações noturnas para o Vivid Festival, e seus cafés, restaurantes e bares oferecem requintes culinários para o Good Food Month, ou Mês de Comida Boa.

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PELAS PESSOAS, PARA AS PESSOAS

A experiência das ruas de Sydney, vielas, espaços abertos e cívicos vai além de desenho e planejamento urbano. Sydney deixou de ser unicamente uma experiência da Opera House e Harbour Bridge. Evoluiu por meio de um conjunto intrincado e complexo de iniciativas baseadas em especificidades locais, de grande e pequena escala, incorporando uma mistura de funções, camadas e arte pública, um programa de eventos diários, semanais, mensais e anuais. As pessoas hoje se envolvem com a cidade, participam em eventos e ativam a esfera pública em todas as escalas. Isso é placemaking feito por pessoas.

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