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Esse é o caso de uma vasta área central em Porto Alegre: o 4o Distrito. Caracterizada por expressiva arquitetura art-deco, a área se desenvolveu como uma das primeiras zonas industriais da cidade, onde morar e trabalhar costumavam coexistir. Os usos industriais tiveram seu pico em meados do século XX, entretanto, desde então, as indústrias passaram a se deslocar para outras áreas, resultando em muitos prédios desocupados. Após esse período, o uso residencial estagnou e a área perdeu muito do seu caráter original.
Garagens, companhias de transporte, alguns poucos escritórios, depósitos e a desocupação compõem agora os usos da área. A prostituição e o tráfico de drogas ocorrem em algumas ruas (mesmo durante o dia), há um descaso com tudo, os imóveis estão degradados, as ruas perderam seu charme potencial. É vergonhoso, ainda mais quando se considera o vasto patrimônio cultural, embora depredado, e a localização central da área.
O que pode ser feito? Que estratégias devem ser adotadas? O potencial escondido desses edifícios desocupados deve ser reconhecido e utilizado. O uso como garagens e depósitos, por exemplo, deve ser direcionado para outros locais, e as ruas e espaços públicos precisam ser reativados.
Usar os prédios vazios para empresas de tecnologia inovadora ou criar um “distrito digital” é a proposta mais frequente na cidade atualmente. Já há propostas semelhantes por parte da Secretaria de Governança do Município e de uma ONG chamada CITE (Cidadania, Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo). Todavia, pouco evoluiu em razão da grande complexidade de atores, de interesses e de visões urbanas. Além disso, a Prefeitura não toma iniciativas nem está disposta a contribuir com recursos financeiros. Aparentemente, não é uma prioridade em termos de planos e investimentos. O resultado: hoje vemos iniciativas isoladas da sociedade civil, auto-organizadas e de natureza cultural para revitalizar parte da área.
Empresários e moradores engajados em um dos bairros do 4o Distrito, a Floresta, deram início a algo novo. Oriundos de vontade sincera e da visão de promover alta qualidade de vida urbana, surgiram o Vila Flores, a Urbsnova e outras iniciativas. O Vila Flores é um centro de cultura, educação e negócios criativos, além de uma plataforma para criação, produção e circulação de bens e serviços criativos. Os proprietários, a família Wallig, perceberam que o prédio reunia grande potencial para produção cultural e adotaram essa belíssima edificação com seu próprio pátio interno. Neste momento, o prédio está sendo restaurado, o que seguramente fará com que o resultado seja impactante.
O espaço permite a colaborativa realização de projetos culturais, eventos artísticos, cursos, filmagens, e é o local de trabalho de muitos artistas e profissionais do setor criativo. Alguns projetos se destinam à comunidade local, tais como o da ONG Mulheres na Construção, que promove oficinas para capacitar mulheres para o trabalho na construção civil.
Outra iniciativa, a Urbsnova, é uma agência de inovação social que pretende criar, planejar, produzir e promover eventos que, em razão de sua natureza inovadora, gerem benefícios reais para a comunidade. A agência criou o Distrito Criativo, um coletivo de artistas e empresários da economia criativa do 4o Distrito. A Urbsnova deu início a muitos projetos originais, tais como o de estimular o mercado imobiliário a considerar o uso de prédios históricos desocupados. Os prédios são vendidos a um preço menor se forem usados para abrigar economia criativa.
Essas iniciativas independentes nasceram na comunidade e estão interligadas em função do seu desejo comum de melhorar o bairro. A Floresta se beneficia de sua boa localização, um espaço urbano com charme e pessoas criativas. Os resultados das iniciativas poderiam ser ainda mais sustentáveis se contassem com mais apoio público. A Floresta poderia ter influência positiva sobre o restante mais crítico do 4o Distrito.
Em colaboração com o 4o Distrito, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS está envolvida com essas iniciativas e, neste momento, dedica atenção ao 4o Distrito em todas as suas disciplinas de projeto de urbanismo, paisagismo e arquitetura. Nessas disciplinas, professores e estudantes pensam a região e propõem soluções e alternativas. A Faculdade está integrada ao Vila Flores ao ocupar uma sala exclusiva onde professores e estudantes podem trabalhar da forma mais próxima possível da área de estudo. As propostas acadêmicas são divulgadas através de exposições públicas promovidas pela Universidade, o que faz com que elas se tornem mais tangíveis. As propostas e a área recebem atenção pública crescente, inclusive da mídia.
Embora essas iniciativas culturais não possam ser adaptáveis a outras partes diferentes e mais complexas do 4o Distrito, a vitalidade social, cultural e econômica pode estimular mudanças substanciais no programa de alguns pontos da região nos quais existam circunstâncias urbanas similares às da Floresta. Muitos trechos do 4o Distrito requerem planejamento mais minucioso e políticas públicas mais incisivas para impulsionar a sua revitalização.
A disposição de se auto-organizar e o sucesso alcançado pela comunidade da Floresta ao promover vitalidade urbana excederam as expectativas, mesmo sem assistência do governo. Todavia, se atividades culturais têm um papel fundamental na regeneração de um tecido urbano, o apoio oficial para sua manutenção é necessário. Espera-se que os esforços conjuntos da Universidade, moradores, empresários e governo possam acelerar as mudanças. Um potencial enorme permanece inexplorado. Esperamos a colaboração do município. Nós estamos prontos.
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