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Tudo bem, nem todos os plinths são equipados com vitrinas aconchegantes e terraços de restaurantes. Seria irritante se cada rua, sem limite, lhe atraísse para comprar, beber e comer, especialmente quando não tem dinheiro. Uma cidade precisa de algumas fachadas chatas, mesmo que fosse apenas para não serem vistas por toda essa gente. Uma cidade precisa também de garagens, contâineres, entradas de serviço, conexões e espaços para instalações, e é necessário que eles não sejam negados nem escondidos de uma maneira ridícula, mas tratados como iguais no espaço público. Talvez requeiram ainda mais atenção porque o funcionar da cidade depende cada vez mais de instalações e fornecedores. Por essa razão, isso é um apelo por mais atenção à interação entre o plinth e o carro e a comunicação técnica, com o estacionamento flamengo como um exemplo.
Nos dias gloriosos dos anos 1950, os flamengos adotaram um perfil americano com uma verdadeira cultura de carros. O carro não era posto na rua para se exibir, como é comum na Holanda, porém nitidamente colocado no estacionamento privado, que era desenhado para ser integrado com a casa. Já nos tempos de Art Nouveau, as portas das garagens eram muitas vezes de uma qualidade maior que a das portas da frente, e as casas modernas dos anos 1950 eram equipadas com garagens ainda maiores. Onde os holandeses têm as suas cortinas de voal, um flamengo típico tem uma porta larga de garagem. E diferentemente da Holanda, casas drive-in não são um privilégio do estilo de vida suburbano. É um fenômeno urbano também, que configura significativamente a aparência das ruas de uma cidade como Antuérpia.
Atualmente, o estacionamento integrado privado em Flandres muitas vezes não é mais usado como tal: a sua porta da garagem com uma placa que diz “carros serão rebocados” é uma garantia para ter uma vaga de estacionamento na frente da sua própria casa na rua urbana movimentada. O fato de que a rua é cheia de carros estacionados é parcial, porque todo morador de Antuérpia é contemplado com duas licenças de estacionamento gratuito. E a maioria das pessoas em Antuérpia, apesar das amplas facilidades para bicicletas e transporte público, tem dois carros na verdade. Pois, apesar de poder viver sem, porque quereria? A garagem obviamente é usada como um quarto extra e área de despensa da bicicleta cara de corrida, da casinha do cachorro e das ferramentas. A garagem privada é a versão urbana da fazenda rural. Num sábado qualquer, a porta da garagem está permanentemente aberta, e traz uma troca animada com a rua. É um prazer espiar secretamente nas garagens, procurando coleções de placas, calendários, invenções mal-sucedidas e brinquedos perdidos. Nenhuma vitrina vence isso!
No distrito Borgerhout, as garagens muitas vezes são usadas como ateliê e ponto de start-up para empreendedores, ou para negócios de importação e exportação, vendas por atacado, espaços para consertos e cavernas de bagunça, por onde não passa um varredor há décadas. Talvez nem tudo seja completamente legal, porém, sim, Apple, Google, Amazon, Barbie e Microsoft também começaram em garagens, porque uma incubadora subsidiada seria mais bem-sucedida que uma garagem num distrito urbano?
Postos de gasolina e oficinas de reparação nas cidades flamengas são integrados logicamente nas linhas de edificação. Há possibilidade de que numa encruzilhada na Antuérpia você encontre um bar, uma loja e uma oficina de carros, todos na mesma esquina, todos prósperos há anos. O plinth do prédio onde está a oficina fica alguns poucos metros recuado, para receber o carro num lugar coberto. O proprietário da oficina fica atrás, sentado numa caixa envidraçada, e talvez more em cima. A entrada para um estacionamento público ou a oficina fica adjacente e muitas vezes ocupa toda a área interna da quadra urbana.
Todo acesso a uma vaga de estacionamento não precisa exceder a 2,5 metros para abrir um mundo novo e uma variação grande de funções. Não admira que seja imensamente popular na Bélgica! Porém, como nos outros lugares nas cidades europeias, acabou a festa. Devido a mudanças de condições de segurança, os postos de gasolina fecharam um por um em meados dos anos 1990. E as pequenas oficinas de carros têm dificuldades de competir com as grandes concessionárias. Nos melhores bairros, as superfícies liberadas pelos fechamentos agora são tomadas por fachadas de vidro e ocupadas por restaurantes e escritórios. As localizações menos lucrativas continuam em declínio, esperando infinitamente por uma nova proposta. Enquanto isso, automobilistas são cada vez mais obrigados a dirigir até mais longe, fora da cidade para abastecer ou consertar os seus carros.
De qualquer forma, se olharmos um pouco mais longe para o futuro, o estacionamento privado e o posto de gasolina local podem encarar um futuro glorioso. Um futuro onde vai ser preciso um espaço seguro e póximo, para um ponto de abastecimento do carro, da bicicleta e da tricicleta, células de combustível e serviço de entrega elétricos, e a área técnica necessária por formas modernas de trabalho, como co-working. Com o tempo, teremos que transformar essas janelas polidas e com gerâneos novamente em garagens!
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